domingo, 6 de dezembro de 2015

A Avenida Paulista como laboratório de cidadania em SP

A cidade de São Paulo vive uma experiência de ocupação do espaço urbano que considero inovadora e, ao mesmo tempo, intrigante. Essa ocupação não é de novos arranha-céus, condomínios ou de conjuntos residenciais, mas de algumas ruas e avenidas. É o programa "Rua Aberta", cujo símbolo é a Avenida Paulista, fechada para carros e aberta para os moradores da cidade aos domingos. Além dela, outras vias também são abertas exclusivamente à população todo domingo.

Citarei a Paulista como experiência pessoal para estas considerações, pois virei frequentador do espaço dominical há cerca de um mês. Percorro a via de bicicleta, a pé ou uso o Metrô nos deslocamentos. É o que acontece ao longo dos seus 2,8 km de extensão que chama a atenção. A Paulista aos domingos vira um grande palco: a cada 200 metros é possível deparar com uma banda, um músico, um grupo regional, dançarinos (as), intérpretes solitários, performances, gente discursando, coletivos debatendo temas diversos e protestando contra ou a favor de algo. Tem comida, shopping centers, lojas, barracas, pequenos negócios, comida, roupa, artesanato, bazares, brechós - uma infinidade de gente que vai vender, comprar, consumir, ver e ouvir coisas.

Acrescente-se a tudo isso a estrutura de museus, galerias, instituições culturais diversas, os prédios, construções antigas e novas que fazem desta uma das avenidas que simbolizam a capital paulista há décadas. Além da Paulista, a população se desloca por suas alamedas e ruas próximas. Ao mesmo tempo, o espaço virou o que considero um "laboratório de cidadania" ao ar livre. As pessoas fazem piquenique, levam a família, sentam no asfalto que durante a semana inteira é exclusividade dos carros, ônibus e motos. A ciclovia e a ciclofaixa completam o cenário onde tudo acontece, menos o uso do carro.

Os músicos apresentam seu repertório, mostram sua arte, as bandas atraem grupos específicos. A cada domingo surgem novos grupos, novas apresentações. Neste domingo (6/12), a Banda Marcial do Senai tocou diante do prédio da Fiesp, que aderiu ao programa municipal. A poucos metros dali, sanfona, triângulo e zabumba davam o tom para a apresentação de música nordestina. Na calçada contrária, banda de blues, jazz e intérpretes de repertório erudito completavam o cenário diverso.

Afora música, comida, passeio, diversão, compras, consumo, esporte, recreação, lazer, alegria, descontração, contato com arte, cultura, conhecimento, política, debates, muita coisa de forma gratuita, a população de São Paulo tem na Paulista a oportunidade de se transformar. De se ver como uma cidade tão diversa e complexa que se refaz no seu próprio concreto.

Quais frutos esta experiência produzirá, não se sabe ainda. A certeza é que a cidade não é mais a mesma desde que o espaço passou a ser ocupado. E como ocupa as pessoas com outras coisas, tira do marasmo, com muitas famílias saindo do domingo fora das telas de suas tevês e vindo para a rua. Muitos negócios, famílias, músicos, artistas, criadores e coletivos dando seus passos, se ampliando. É algo ainda sem uma medida.

Enfim, esta talvez seja uma oportunidade de ouro que a cidade de São Paulo tem em mãos para produzir uma nova onda de cidadania. O que parecia ser apenas um incentivo ao uso da bicicleta na cidade dos carros, da poluição e do barulho agora ganha ares de novidade. E que novidade. Parabéns São Paulo por viver esse momento tão intensamente!