quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Autoridades, conflitos e direitos em discussão


Dois episódios ocorridos em São Paulo chamam a atenção do país pelas contradições, polêmicas e por conta das pessoas envolvidas. No primeiro, um delegado foi acusado de agredir um cadeirante ao ser questionado por ocupar uma vaga destinada a deficientes. No segundo, um vídeo que se espalhou dia desses na internet, dá conta de uma ação da Corregedoria da Polícia Civil paulista na qual uma escrivã acusada de corrupção é despida à força por policiais.

No primeiro caso, o delegado acusado da agressão disse que "apenas deu uns tapas" no cadeirante depois de sofrer algum tipo de agressão verbal. No outro, o delegado da corregedoria despiu a investigadora acusada para encontrar a prova que buscava - dinheiro ilícito que esta teria escondido em peça íntima.

Duas autoridades em situações distintas, mas que remetem a uma reflexão: até onde vai o poder de quem representa a lei? A legislação a esse respeito é clara, sabemos disso - e ambos certamente sabiam muito bem, mesmo quando foram além dos limites impostos pela lei. Ambos conflitos provocaram muita discussão nos últimos dias.

Houve quem defendesse a ação truculenta contra a investigadora, uma vez que a situação dela seria insustentável: como pode uma policial compactuar com o crime? Portanto, seria justo que, "ao mudar de lado", ela deveria receber o mesmo tratamento de uma criminosa comum - se bem que isso renderia outro debate mais profundo ainda.

Esses dois conflitos lembram uma velha máxima popular: um crime (ou um suposto crime, melhorando o ditado) não justifica o outro. Um erro não deve ser encoberto por outro. Ao ocupar a vaga do cadeirante o delegado já cometeu uma infração, que não poderia ser acobertada pela reclamação - ainda que por um impropério - deste. E nem faz sentido uma pessoa ser investigada sem que se respeitem direitos básicos de imagem e de intimidade.

A complexidade dos casos só demonstra o quanto ainda precisamos avançar no entendimento do que são "direitos humanos" - algo que vai muito além dos presídios, dos presos, mortos e feridos que movem o debate mais comum acerca deste tema na sociedade.

Todavia, esses casos já revelam a grossa camada histórica brasileira que encobre a tradicional frase atribuída a "autoridades" sempre que estas são questionadas ou querem provar que estão acima de alguém: "Você sabe com quem está falando?".

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Sobre imagens, palavras e individualismo


Em artigo publicado no jornal Folha de S. Paulo desta terça-feira (15), o jornalista Jairo Marques faz um interessante jogo de palavras com uma definição clássica de comunicação segundo a qual "uma imagem vale por mil palavras". Como o mundo também é habitado por deficientes visuais, ele reordena a máxima: "Para quem nada vê, imagem nenhuma substitui as palavras".

Seu artigo é voltado para cobrar a implantação do sistema de "audiodescrição" na programação das tevês. Já existe tecnologia e lei para tal fim. A coisa funcionaria de forma simples: durante duas horas por dia, as redes de televisão ofereceriam a opção de um locutor descrevendo o que se passa no programa em exibição - além do recurso dos caracteres na tela conhecido como "closed caption".

Segundo ele, algo como dizer o que uma atriz faz, descrever um personagem em movimento ou alguns sons que são emitidos e que não são devidamente compreendidos por quem não vê. Seria uma espécie de "tradução" do que o vídeo mostra.

Concordo plenamente com a ideia, que vai além de uma "mãozinha" aos deficientes visuais. Amplia o conhecimento para quem é deficiente, sem esquecer que se trata de maior acesso à cidadania. Basta lembrarmos que a tevê, muitas vezes, exibe cenas durante minutos seguidos em que aparecem apenas imagens e trilha de fundo.

A propósito disso, lembro-me quando da instalação do sistema que avisa em que qual andar o elevador está e também informa sobre a abertura e fechamento das portas deste. Alguns prédios em grandes cidades já dispõem desta "gravação" - que deveria ser obrigatória em todos os elevadores, em edifícios novos ou antigos.

No meu local de trabalho, assim que o sistema começou a funcionar, muita gente reclamava da "chatice" de ouvir "porta abrindo, porta fechando, terceiro andar". Certamente se esquecendo de que isso é fundamental para quem não vê.

É a velha luta contra o individualismo, outro inimigo da inclusão.

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Quando o limite é a insanidade


Em todo o mundo, o futebol tem exemplos de ultrapassagem dos limites básicos de civilidade e respeito. Não importa o campeonato. É raro tomarmos conhecimento de alguma partida com equipes de renome - nacional ou internacional - em que a disputa se encaixe na clássica frase "que vença o melhor".

Milhões de cabeças, bolsos, cofres e interesses que povoam os campos, clubes, entidades, jogadores, dirigentes, patrocinadores - e por último os torcedores - fazem deste esporte um vetor de explosões e de problemas que mexem com a sociedade, nem sempre de modo a colaborar para uma convivência sadia.

A mídia destaca no Brasil os recentes casos de dois jogadores que estão deixando os campos por medo da fúria dos torcedores. Dirigentes são acusados de participar de negociatas e toda sorte de transações no mercado da bola. Juízes comentam ou são acusados de favorecer este ou aquele time. São diversos exemplos que mostram como este esporte popular hoje está tomado de problemas.

Afora os problemas acima citados, o comportamento e a reação das torcidas e de determinados torcedores talvez sejam os mais degradantes do ponto de vista da quebra de valores sociais e morais importantes e caros à sociedade como um todo. A regra dentro e fora dos campos não tem sido a do respeito aos adversários, nem mesmo aos torcedores do mesmo time. São fartos os exemplos até de assassinatos de torcedores no mundo todo, em particular no Brasil nos anos recentes.

Vale frisar o modo como determinadas pessoas se tratam no dia-a-dia, em geral usando adjetivos ligados aos nomes dos times de forma pejorativa. Não raro é notarmos o quanto se busca 'diminuir' o torcedor do time adversário com denominações como 'assaltante', 'veado' ou 'pobre'. Termos desse naipe são repetidos a toda hora em locais de trabalho, escolas, bares, restaurantes, em casa ou na rua. Virou um vício nacional maltratar o torcedor do time com o qual não simpatizamos.

De fato, trata-se de uma distorção que teria tudo para ser uma brincadeira, não fosse o modo agressivo com quem crescem os problemas e o que provocam a longo prazo. A velha e saudável "disputa" virou simplesmente um caso de vida ou morte para determinadas pessoas que fazem do futebol uma espécie de válvula de escape para problemas ou frustrações maiores.

Espera-se que a consciência acerca disso vire motivo de debate daqui a algum tempo, sob pena de perdermos o senso. Sabemos que torcer por um time é um ato de paixão, de prazer e de alegria, mas isso não pode ser confundido com uma espécie de carta branca para o desrespeito geral aos "adversários". Não faz bem a ninguém o esporte virar uma fábrica de 'inimigos' que se cruzam em todos os cantos, sempre expostos a explosões de fúria e outros problemas, maiores ou menores.

Cidadania é algo que este esporte perdeu um tanto de vista nos últimos tempos, mas pode-se recuperar com a consciência de que ninguém é melhor ou pior do que ninguém por conta de um time de futebol. E nem tem motivos para fazer disso uma batalha diária contra os outros.

Torcer com respeito e dignidade é o melhor caminho!

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Sobre a eterna busca humana pela felicidade


"Não existe caminho para a felicidade; a felicidade é o caminho".

MAHTMA GANDHI

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Um lamentável alerta nas escolas


De tempos em tempos somos surpreendidos pela publicação de pesquisas que apontam o aumento dos casos de agressão sofrida por professores em salas de aula de todo o país. Os casos mais recentes mostrados pela imprensa dão conta de ataques sofridos por mestres em escolas particulares - inclusive em universidades.

O clima de tensão levou sindicatos de professores a reagir: em Minas Gerais, o sindicato da categoria criou um telefone "0800" para ligações somente para casos de agressão. As denúncias serão levadas à Justiça, segundo os sindicalistas, para proteger os professores e barrar a violência.

Este é mais um lamentável alerta nas escolas. Assunto restrito ou tido como próprio de escolas públicas, as agressões praticadas por alunos ganharam a rede particular, embora se saiba que sempre existiram casos dessa natureza. Apenas não se tocava no assunto, como agora fazem os professores mineiros.

ALERTA E SAÍDAS - É um alerta que exige atenção, ação e deveria provocar reflexões mais profundas em casa, na escola e por parte das autoridades. Afinal, esse tipo de violência não pode ser tido como ato de rebeldia. Aos pais, a necessidade urgente de se pensar em ações que resultem em impor limites às crianças, jovens e adolescentes.

Do contrário, a tendência é assistirmos a um recrudescimento desses atos que não condizem com os objetivos básicos da escola - conhecimento, sociabilidade, amizade e crescimento com cidadania.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

A gentileza aprovada pela Ciência

Trecho de matéria do portal IG

Ser gentil faz diferença

Capaz de trazer felicidade e de proteger o grupo, os efeitos e motivos da gentileza são cada vez mais validados pela ciência


"O impulso de ser gentil ou altruísta é natural ao ser humano e um importante mecanismo evolucionário, de acordo com o professor de ciência comportamental Samuel Bowles, do Instituto Santa Fé, nos Estados Unidos. Bowles está lançando “A Cooperative Species – Human Reciprocity and its Evolution” (ainda sem editora no Brasil), livro em que afirma que o ser humano é cooperativo em sua essência. “Quando grupos cooperativos se dão melhor na disputa com outros ou sobrevivem melhor a crises ambientais, o resultado é uma espécie cada vez mais colaborativa”, disse ao iG. Ele defende que mesmo arcando com um custo pessoal, a ser humano tende a ser gentil por conta dos sentimentos de orgulho e satisfação – uma recompensa estratégica para a gentileza e para o altruísmo". Leia mais.

COMENTÁRIO - É fato que o tratamento gentil melhora qualquer ser humano, faz com que sejamos mais completos e agradáveis. Não é o que os outros pensam ou querem de nós que faz a diferença, e sim o que está dentro de nós permanentemente.

sábado, 5 de fevereiro de 2011

O privilégio das histórias simples e verdadeiras


Sempre me considerei privilegiado em diversos aspectos da vida pessoal e profissional, e digo isso com orgulho e alegria, sem qualquer ponta de soberba. Hoje reencontrei mais um desses privilégios - que veio ao meu encontro por mera casualidade.

Para não deixar os leitores e leitoras curiosos, vou resumir contando uma pequena história, real, que vivi no início da noite desta sexta-feira (4):

Um rapaz vem ao meu local de trabaho para realizar um serviço de manutenção nos computadores e, enquanto mexe na configuração de uma das máquinas, é indagado por alguém próximo se já conhecia o meu livro. Depois de ouvir a recomendação sobre a obra, o rapaz fica curioso e eu, claro, interessado em apresentar O SACI DE DUAS PERNAS.

Pego um exemplar do livro, ele folheia, diz achar interessante e se concentra em alguns comentários que faço. Em seguida, ouço dele uma afirmação verdadeira e muito segura: "Eu sei do que este livro trata. Tenho um filho cego, sei como é isso".

Calmamente, ele me conta as dificuldades que viveu e vive para manter viva a chama entre ele e o filho - hoje com cinco anos. O garoto mora com a mãe e tem outras deficiências além da visual - que incluem problemas de mobilidade e mental.

Concentro-me no brilho dos olhos do pai falando dos progressos do filho e da alegria de tê-lo. Não demonstra e nem se refere em momento algum a frustrações por saber que o garoto não terá o mesmo estilo de vida que os outros dois filhos que nasceram depois deste - e que não têm nenhuma deficiência. Seu depoimento é repleto de paixão, atração, carinho e sinceridade.

Autografo um livro para ele levar e ler para os filhos. O rapaz se diz ansioso para contar ao seu 'super especial' a história que acabara de conhecer e que, na prática, já conhecia muito antes de eu publicar o texto do SACI.

Seu jeito de encarar a realidade e compreender a diversidade é que fecha a história que ele conta como quem se alimenta de esperança por um mundo melhor.

Eis um privilégio que recebi, além de outros tantos: ter sempre boas e verdadeiras histórias vindo ao meu encontro. Sempre emocionantes, cheias de vida e de alegria. E isso me faz acreditar sempre mais na força do ser humano como meio de transformação da realidade que muitos teimam em ver apenas pelo lado difícil.

É interessante saber que pessoas que você conhece, mas nem sempre fala com elas, podem ter histórias internas que elas só contam a outros quando têm certeza de que podem ser úteis - para multiplicar a esperança, a alegria e a felicidade.

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Medida que foge a qualquer ideia de bom senso


O sempre bem-humorado jornalista paulistano Ricardo Kotscho questionou em seu blog BALAIO DO KOTSCHO uma medida adotada pelo órgão de perícias médicas que seleciona futuros servidores públicos aprovados em concurso no Estado de São Paulo.

A pergunta direta foi o tema da postagem dele: Por que gordo não poder dar aulas?

Lembrando-se da mudança de "nomenclatura" politicamente correta, na qual "gordo" virou "obeso", e brincadeiras à parte, Kotscho discorre sobre uma proibição que não faz o menor sentido. Ainda mais em se tratando da seleção de futuras professoras para a rede estadual de ensino, justamente onde estas poderiam reforçar a necessidade do respeito à diversidade.

Ser obeso pode, eventualmente, trazer problemas de saúde às pessoas, mas isso não as impede de exercer sua profissão - e nada impede que se seja feliz quando se vive acima do peso desejado ou imposto por qualquer padrão. Eis que o jornalista satiriza a decisão do órgão estadual que vetou as professoras por suposta obesidade:

"Só espero que também não proibam os carecas e os sexagenários de exercer o ofício de jornalista. Falando sério: quem foi que inventou este critério para o Departamento de Perícias Médicas de São Paulo poder vetar professores gordos já aprovados em todas as fases anteriores do concurso para o magistério estadual? Lembro-me que alguns dos meus melhores professores eram mais gordos do que eu".

É bom não perder o senso para não criar mais um entrave à boa convivência social. E ninguém pode ser alvo de uma discriminação, ainda mais vinda do Estado.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Vitória do Popeye e da alimentação saudável


Trecho de reportagem da coluna Radar Científico, do Estadão:

Popeye tinha razão

"Um estudo científico demonstrou que Popeye tinha razão ao afirmar que sua força vinha do espinafre. O famoso marinheiro, personagem de quadrinhos americano que depois virou desenho animado, engolia o conteúdo de uma lata de espinafre cada vez que tinha que utilizar seus músculos para sair de uma encrenca.

Agora os pesquisadores descobriram que comer um prato de espinafre todos os dias realmente aumenta a eficiência muscular. O consumo de 300 gramas de espinafre reduz em um 5% a quantidade de oxigênio necessária para o funcionamento dos músculos quando se faz exercício físico, segundo um estudo publicado na revista Cell Metabolism". Leia mais aqui.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Uma receita de desrespeito e vazio


Aprender é uma obrigação e não alcançar os objetivos traçados pela escola e pelos pais rende castigos, maus-tratos e humilhações: esta é a receita que se aplica na China para se "educar" os filhos, segundo relata em livro a professora de direito americana Amy Chua, filha de imigrantes chineses.

A história do "método educacional" que teria levado a China ao topo do ranking mundial em aproveitamento escolar está em reportagem da revista Exame, edição 0984 (leia aqui). A autora teria resumido no livro Battle Hymn of the Tiger Mother (algo como “Hino de batalha da mãe-tigre”, numa tradução livre) o modo como "educou" as duas filhas.

A receita dela é simples: cobrar, forçar, humilhar e incutir na cabeça dos filhos que eles não passam de figuras que devem, antes de mais nada, obediência ao que seus pais desejam e sonham. O resto é enganação "ocidental".

Quem procura resultados, pode ser que se dê bem com o tal método. Quem procura a formação de uma pessoa na íntegra, com valores humanos, morais, sentimentos e sem frustrações, certamente pensaria duas vezes antes de avalizar tais ideias. Como diz o ditado, quem semeia vento colhe tempestade.

Se bem que é sempre oportuno lembrar que nunca faltam aqueles que vivem do passado e apelam para a nostálgica e infeliz "no tempo da palmatória era melhor". E nem se deram conta, talvez, de tantos frustrados e infelizes aquele método "educacional" gerou. Ou todo mundo "de antigamente" era feliz, como se imaginava?