sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Mudança de mentalidade e leis


Outro dia fiz uma pesquisa rápida sobre cidades, estados e propostas existentes Brasil afora que valorizam a figura do Saci.

Existem leis em diversos estados e cidades brasileiras estabelecendo o dia 31 de outubro como O Dia do Saci.

A data coincide com a comemoração do Halloween norte-americano - ou "Dia anterior ao Dia de Todos os Santos", em português, também chamado de Dia das Bruxas. Vê-se na raiz destas iniciativas nacionais alguma dose de 'disputa' com a tradição dos EUA. Não discutirei aqui essa natureza, pois não vejo grande vantagem na adoção de algo como contraposição, e sim como afirmação baseada em princípios.

O deputado federal Aldo Rebelo (PC do B - SP) tem um projeto de lei tramitando no Congresso Nacional que institui a referida data em nível nacional. O Estado de São Paulo tem até uma lei com teor semelhante, que foi sancionada pelo ex-governador Geraldo Alckmin em janeiro de 2004. O texto legal diz apenas que " fica instituído o "Dia do Saci", a ser comemorado, anualmente, no dia 31 de outubro".

Acho boas todas essas iniciativas, mas pouco úteis do ponto de vista prático. Não acredito que leis possam mudar uma mentalidade. No caso específico, trata-se de uma figura "imaterial", cujo culto existe há milênios desde seu surgimento nas diversas culturas indígenas até sua miscigenação com elementos afro-americanos - que deram origem ao "saci negro de uma perna só". O Saci, portanto, tem vida própria e talvez não carecesse de leis em seu socorro. Mas já que estas existem, melhor ainda!

Aprecio a difusão do mito, das histórias e do seu poder de atração como forma de garantir sua perpetuação - e até mesmo a supremacia em relação a outras tradições, embora desconfie de iniciativas xenófobas por natureza.

Ao usar a figura do Saci e reuni-la a outros mitos de grande expressão na cultura nacional, meu livro busca ser mais um instrumento de apropriação dessa coisa mágica que só a imaterialidade traz consigo.

Por último, tenho tanta admiração pela nossa mitologia e tanto acredito na sua força que a vejo andando com as próprias pernas. Quanto maior sua difusão, maior o seu poder de sedução entre crianças, jovens, adolescentes e adultos.

Nenhum comentário: