sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Refletindo sobre as linguagens das crianças


Publico abaixo um texto meu publicado em 2006 e que recuperei via internet. O artigo saiu na edição de janeiro de 2006 do boletim FALA, MEU!, da cidade de Guarulhos (SP). Refleti sobre como é importante para pais, professores e a família de um modo geral partilhar do universo infantil como forma de facilitar o processo de aprendizagem dos filhos. Leia o texto.

APRENDER COM O QUE INTERESSA AOS PEQUENOS

Djair Galvão, jornalista e professor

Educadores, pais e todos aqueles que lidam com o universo infantil no mínimo suspeitam que uma revolução lingüística se processa na garotada de alguns anos para cá.

Não precisa ser estudioso do assunto para perceber que um conjunto de nomes estranhos foi incorporado ao vocabulário deles – os exemplos vão desde o clássico mundo de Harry Potter aos robôs montados com peças Lego do desenho Bionicle. Claro que a fantástica saga criada por J.R.R. Tolkien, da célebre trilogia O Senhor dos Anéis, não ficaria fora dessa sequência de expansão lingüística que há anos está a caminho em nossas casas, nas escolas e no mundo infantil e adolescente.

Quem vê nessa verdadeira invasão lingüística um problema ou algum tipo de atraso, está realmente perdendo uma oportunidade de entender como o processo pedagógico pode se apropriar dessa ferramenta – a expansão vocabular – para aumentar o interesse dos pequenos pelo aprendizado. Aliás, qualquer pessoa minimamente familiarizada com os processos de ensino e aprendizagem sabe que se aprende aquilo que interessa. Não é à toa que encontramos no Brasil pessoas com larga carga de conhecimentos sobre futebol – uns dissertam longamente sobre times, jogadores e gols ocorridos há anos. O que interessa, sabemos, fica.

Portanto, se o seu filho anda falando demais em elfos, hobits, dragões, escolas de magia, vassouras Nimbus, mutantes como os da saga X-Men e tantos outros, não estranhe. O ideal é se aproximar desse mundo e teremos à mão uma chance de utilizar
esse linguajar para aumentar o interesse deles por outras linguagens, as mais tradicionais dos livros e dicionários.

Vakama, Makuta, Toa Hordika, Nokama, Matau, Metro Nui e tantos outros que compõem o universo do desenho futurista de Bionicle fazem companhia a nomes como Hogwarts, Azkaban, Pedra Filosofal, Valdemort e, claro, os Potter e seus amigos.

Aprender esses e outros nomes é importante para ter o que conversar com eles, além de ser uma oportunidade de abrir caminhos para aumentar o interesse deles por coisas que farão parte das suas vidas de adultos.

Afinal, a idéia de que as crianças aprendem brincando não foi mera teoria que os especialistas em educação vêm repetindo há décadas. E vale lembrar que quem tem alguma ligação com a educação e o conhecimento não deve fazer de conta que não tem mais o que aprender. Quem leciona tem obrigação, sim, de se inteirar desse mundo que não tem volta, que pode nunca ir parar nos livros didáticos, mas que já está na cabeça deles há tempos.

PUBLICADO NO JORNAL FALA, MEU! (de Guarulhos, SP) em janeiro de 2006.

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