sábado, 5 de fevereiro de 2011

O privilégio das histórias simples e verdadeiras


Sempre me considerei privilegiado em diversos aspectos da vida pessoal e profissional, e digo isso com orgulho e alegria, sem qualquer ponta de soberba. Hoje reencontrei mais um desses privilégios - que veio ao meu encontro por mera casualidade.

Para não deixar os leitores e leitoras curiosos, vou resumir contando uma pequena história, real, que vivi no início da noite desta sexta-feira (4):

Um rapaz vem ao meu local de trabaho para realizar um serviço de manutenção nos computadores e, enquanto mexe na configuração de uma das máquinas, é indagado por alguém próximo se já conhecia o meu livro. Depois de ouvir a recomendação sobre a obra, o rapaz fica curioso e eu, claro, interessado em apresentar O SACI DE DUAS PERNAS.

Pego um exemplar do livro, ele folheia, diz achar interessante e se concentra em alguns comentários que faço. Em seguida, ouço dele uma afirmação verdadeira e muito segura: "Eu sei do que este livro trata. Tenho um filho cego, sei como é isso".

Calmamente, ele me conta as dificuldades que viveu e vive para manter viva a chama entre ele e o filho - hoje com cinco anos. O garoto mora com a mãe e tem outras deficiências além da visual - que incluem problemas de mobilidade e mental.

Concentro-me no brilho dos olhos do pai falando dos progressos do filho e da alegria de tê-lo. Não demonstra e nem se refere em momento algum a frustrações por saber que o garoto não terá o mesmo estilo de vida que os outros dois filhos que nasceram depois deste - e que não têm nenhuma deficiência. Seu depoimento é repleto de paixão, atração, carinho e sinceridade.

Autografo um livro para ele levar e ler para os filhos. O rapaz se diz ansioso para contar ao seu 'super especial' a história que acabara de conhecer e que, na prática, já conhecia muito antes de eu publicar o texto do SACI.

Seu jeito de encarar a realidade e compreender a diversidade é que fecha a história que ele conta como quem se alimenta de esperança por um mundo melhor.

Eis um privilégio que recebi, além de outros tantos: ter sempre boas e verdadeiras histórias vindo ao meu encontro. Sempre emocionantes, cheias de vida e de alegria. E isso me faz acreditar sempre mais na força do ser humano como meio de transformação da realidade que muitos teimam em ver apenas pelo lado difícil.

É interessante saber que pessoas que você conhece, mas nem sempre fala com elas, podem ter histórias internas que elas só contam a outros quando têm certeza de que podem ser úteis - para multiplicar a esperança, a alegria e a felicidade.

Nenhum comentário: