Pelo título inusitado que escolhi para o livro, muitas crianças e adultos demonstram estranheza ao tomarem contato com a possibilidade (que a literatura permite) de um saci ter duas pernas. Lembrei-me de um escritor aqui de São Paulo que já tratou do tema, mas na perspectiva indígena.
Estou falando do escritor guarani Olívio Jekupé, que mora na Aldeia Krukutu, na região de Parelheiros, extremo sul da Capital. Ele é autor de vários livros - dentre os quais O Saci Verdadeiro (Editora da Universidade Estadual de Londrina), publicado no ano 2000. A obra fala de um "saci indígena", que tem duas pernas, protege as matas e ajuda todos aqueles que pedem socorro na floresta.
Sua explicação para o "saci negro" e de uma perna só veio do processo de colonização, já que os escravos acabaram dando feições negras ao personagem que existia entre os índios brasileiros. A perna só foi a representação dos castigos e mutilações sofridas pelos negros durante a escravidão. No geral, a entidade indígena tem poderes mágicos como aparecer e sumir, mas não usa a carapuça (chapéu vermelho) e nem o cachimbo.
Eu conheci Olívio Jekupé em diversos eventos aqui em São Paulo, ora vendendo livros, ora fazendo palestras sobre a cultura guarani. A propósito, ele dirige a Associação Guarani Nhe’ ê Porã e tem um site (clique aqui) onde podem ser encontradas muitas informações sobre o universo indígena na visão de quem vive na cidade grande.
Enfim, mais uma informação para quem acompanha O Saci de Duas Pernas, embora o meu livro não aborde o folclore e nem discuta a lenda do saci como o fazem Jekupé e outros escritores.
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